Déborah
Salves/Terra
Computadores, impressoras, teclados, televisões, celulares.
Eletroeletrônicos não devem ser jogados no lixo comum quando acaba sua vida
útil, pois os materiais usados na composição desses equipamentos são muitas
vezes tóxicos - e também valiosos, já que ouro e prata, por exemplo, fazem
parte dos circuitos. A chamada sucata eletrônica deve ser recolhida e enviada a
empresas especializadas na reciclagem desses produtos, em um processo chamado
de manufatura reversa. O nome ilustra bem as etapas: desmontar, separar partes
e extrair diferentes elementos de cada componente, ou seja, uma lógica que faz
o caminho contrário ao da produção de equipamentos.
A reciclagem de eletrônicos
A reciclagem de eletrônicos começa com a desmontagem dos
equipamentos, que na RecicloAmbiental é feita manualmente. As etapas manuais,
para o diretor da empresa, são uma oportunidade de geração de postos de
trabalho e de renda com a indústria do setor de manufatura reversa. Miriam
Correia Serra (na
foto), por exemplo, tem 44 anos e trabalhava como diarista, sem
carteira assinada, até começar na empresa de reciclagem, onde está há dois anos. Funcionários como Miriam desaparafusam as partes do aparelho e
separam os componentes de acordo com a reciclagem que será feita na sequência:
plásticos, ferros, metais, alumínio e placas de circuitos vão para diferentes
usinas.
A CPU do computador tem uma estrutura feita de ferro, que vai
para a indústria de reciclagem especializada no material
Botões e tampas
A parte frontal da caixa, onde ficam botões, aberturas de drives
CD, etc, é feita de plástico - são mais de 900 tipos, mas a indústria de
eletroeletrônicos utiliza materiais específicos. Depois de separadas, as partes
são destinadas a outra usina de reciclagem.
Placas de circuito
As placas eletrônicas - placa mãe, placa de rede, placa de áudio
e vídeo - são também isoladas, mas o processo de reciclagem não é feito no
Brasil. Isso porque esses componentes são feitos de 17 metais diferentes,
incluindo alguns preciosos, e separar cada um desses elementos exige tecnologia
de ponta, que o País não tem. Na verdade, apenas cinco empresas no mundo fazem
o processo com excelência, e elas estão instaladas na Alemanha, na Bélgica
(para onde vai a maioria do material recolhido pela RecicloAmbiental), no
Canadá, na Suécia e no Japão.
Freitas aponta que a tecnologia avançada de reciclagem das
placas não deve ser o foco do Brasil neste momento de implantação da Política
Nacional de Resíduos Sólidos. É preciso, antes disso, operacionalizar a coleta,
para que haja volume de material suficiente para compensar o custo do
investimento.
Cabos
Os cabos, tantos os internos que conectam os diferentes
componentes dentro da CPU, quanto os externos que conectam periféricos, também
entram na lista de recicláveis. Freitas ressalta que os chamados sucateiros há muito
já "reciclam" o material, mas o processo que usam é queimar os fios,
derretendo o plástico e vendendo o cobre que resta depois. O jeito
ecologicamente correto, no entanto, é moer os cabos e, na sequência, usar a
diferença de peso entre o plástico e o metal para separá-los, sem emissão de
gases na atmosfera.
Cabos: separação de materiais
Em algumas usinas, joga-se a mistura dos materiais moídos na
água: o plástico boia, o cobre afunda. "Não tem queima, mas gasta água e
ela muitas vezes não é tratada", pondera o empresário, justificando a
opção de sua empresa por um moinho de vento: o plástico voa, o cobre fica.
Depois se separados, cada elemento segue para as empresas especializadas na sua
reciclagem
Cooler
O alumínio também aparece entre os componentes da CPU: o cooler,
que mantém o processador resfriado, é feito do metal. Segundo Freitas, hoje o
Brasil é exemplo mundial na reciclagem de alumínio, que atingiria 98% do total.
Para que o alumínio seja enviado à reciclagem é preciso, antes,
remover parafusos e elementos de ferro que circundam o cooler.
Notebooks
Os notebooks, diferente dos computadores desktop, têm a
estrutura composta mais por alumínio do que ferro, uma vez que o primeiro é
mais leve. Isso, no entanto, não gera diferenças no processo de manufatura reversa,
que procede com os laptops da mesma forma que com os PCs.
Estrutura
As impressoras são compostas pelos mesmos elementos que o
computador: uma estrutura interna de ferro, uma carcaça de plástico, placas
eletrônicas, e uma série de cabos, que são separados e enviados às respectivas
indústrias.
Cartuchos
O diferencial desses equipamentos está no material usado para
impressão: cartucho, toner ou pó são enviados para coprocessamento – ou seja,
usados para queima em geradores de energia.
Modelos de tubo
Monitores e TVs de tubo têm, como o nome indica, um tubo
interno, responsável por produzir a imagem que o usuário vê na tela. Na ponta
desse tubo, há um pouco de cobre - mesmo material que compõe a parte interna
dos cabos de computador -, que também é reciclado.
Vidros
Monitores CRT e televisores de tubo são os eletroeletrônicos
mais caros para se trabalhar dentro da indústria da reciclagem. "O valor
agregado é muito baixo porque é preciso pagar a destinação do vidro com
chumbo", explica. O vidro a que se refere é o que compõe uma espécie de
segunda camada em relação ao vidro no qual o usuário costuma observar as
imagens na TV. Essa segunda camada tem de 20% a 30% de chumbo, metal pesado, em
sua composição, o que exige que tenha destinação diferenciada.
Separação dos vidros
O processo de separação dos dois vidros usa uma máquina que
aspira pó de dióxido de alumínio e fósforo, material que precisa ir para aterro
controlado ou para usina de coprocessamento. Depois de separados, o vidro com
chumbo é reaproveitado, no Brasil, pela indústria cerâmica para o acabamento
das peças, enquanto o vidro "limpo" - que tem esse nome por não
conter chumbo - é reciclado normalmente.
Placas de circuito
Monitores e TVs também têm placas eletrônicas, semelhantes às
placas mãe e de rede do computador. Mas, aqui, há um pouco de alumínio na
composição. Por isso, é preciso moer esses materiais, separar o alumínio, e
então enviar o restante do resíduo para fora do País, onde estão as usinas
capazes de recuperar os outros metais que compõem os circuitos
Estrutura
A caixa externa de monitores e TVs é feita de plástico e, assim
como a parte frontal da CPU, é separada e enviada à indústria de reciclagem
especializada no material. A estrutura interna é feita de ferro, também
destinado a uma usina de reciclagem específica.
Modelos de LCD
Monitores e TVs de LCD seriam mais fáceis de reciclar do que os
modelos de tubo, por não terem o vidro com chumbo e nem tubo com cobre.
Plásticos e placas de circuito seguem a mesma lógica dos outros aparelhos, mas
a parte composta de LCDs é enviada para fora do Brasil, uma vez que o País não
possui tecnologia de reciclagem desses componente
Estrutura e bateria
No caso de celulares, boa parte do peso dos aparelhos é da
própria placa de circuitos, então muitas vezes não há processo de separação no
Brasil: os equipamentos são enviados, inteiros, diretamente às indústrias
internacionais. Quando há desmontagem, apenas a bateria é desligada do resto do
equipamento, e como sua composição também contém metais preciosos e pesados, os
itens são igualmente exportados.
Cabos, plásticos e placas
Teclados, mouses e outros periféricos em geral são compostos de
cabo, plástico externo e placa eletrônica - de tamanho reduzido -, materiais
que são separados e enviados às usinas capacitadas, da mesma forma que as
partes dos eletroeletrônicos