QUEM MATOU O CARRO ELETRICO

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Quem matou Odete Hoitman? No final da década de 1980, a força da indústria cultural transformou essa pergunta em uma preocupação, e prioridade, nacional: descobrir o assassino da personagem vivida pela atriz Beatriz Segall na novela Vale Tudo, escrita por Gilberto Braga. Muitos eram os suspeitos, todos com bons motivos para eliminar a milionária, e esnobe, dramatis persona.
Na década seguinte, em outro nível de discussão e bem longe da atenção do grande público, outro homicídio era cometido. Dessa vez no sólido universo da indústria automobilística norte-americana. Os veículos movidos à energia elétrica, ainda experimentais, mas já com relativa aceitação, estavam sendo expurgados do mercado, para o desprezo da maioria das pessoas e o inconformismo militante de uns poucos. Esse é o tema do instigante documentário Quem matou o carro elétrico?, dirigido por Chris Paine e lançado por uma produtora com o apropriado nome de Electric Entertainment.
O filme consegue unir o mesmo rigor científico de Uma Verdade Inconveniente, protagonizado por Al Gore, e o ritmo de mistério e ironia de um documentário de Michael Moore. Mais ainda, com seu bom acabamento cinematográfico lembra películas como Teoria da Conspiração, dirigida por Richard Donner. E as coincidências não param por aí, o mesmo Mel Gibson que estrela o filme de Donner, na pele de um motorista de táxi obcecado por conspirações nos altas esferas governamentais, participa deste documentário, através de curtos depoimentos, infelizmente menos convincentes do que sua atuação em Teoria da Conspiração. É particularmente bizarra a cena em que afirma sentir-se o próprio Batman saindo da batcaverna com seu EV (Electric Vehicle).
Muito mais convincente, em nada risível, é a participação do ator Tom Hanks. Especialmente tocante é o trecho reproduzido de uma entrevista sua no programa "David Letterman Show". Ao ser perguntado sobre o que pretendia quando optou por esse tipo de veículo, respondeu que "pretendia salvar a América", referindo-se, obviamente, às emissões de gases causadores do efeito estufa, que atingiram índices alarmantes de poluição por automóveis (os maiores do planeta) justamente na Califórnia, local de residência dos citados atores e berço do carro elétrico moderno.
Digo carro elétrico moderno porque o documentário, após uma hilariante tomada inicial, onde vemos cenas reais de um enterro simbólico do veículo, apresenta um breve panorama histórico desse conceito, informando-nos que há um século havia mais carros elétricos do quea gasolina. O primeiro "assassinato" do carro elétrico deu-se nos anos 1920, com a nascente linha de produção dos veículos com motor, lembrando-se, inclusive, que a General Motors (GM) adquiriu o sistema de bondes elétricos da Califórnia apenas para desativá-lo e, assim, estimular o uso de veículosa gasolina.
A retomada do conceito deu-se em meados da década de 1990, também por pioneirismo da GM que fabricou o EV1, seguida pela Ford (Think e Ranger), Honda (EV Plus), e Toyota (RAV4). Todos esses modelos eram vendidos apenas através de leasing, custando entre 250 e 600 dólares mensais. No início da década atual, entretanto, todas as montadoras resolveram retirá-los de circulação e, por força do mesmo sistema de leasing, exigiram que os consumidores os devolvessem. 
http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/estante/estante_263106.shtml

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