Compreensão da neutralização dos gases do efeito estufa

terça-feira, 18 de janeiro de 2011


Compreensão da neutralização.
Tomar banho, publicar um livro ou fabricar um automóvel são vetores de emissão de gases do efeito estufa (GEE). A utilização de recursos naturais, principalmente os não renováveis, para a realização de atividades como estas é responsável pelo acúmulo de GEE na atmosfera e conseqüentemente pelo aquecimento global.
Uma das modalidades previstas no Protocolo de Quioto para abrandar o efeito estufa é o plantio de florestas. As árvores, durante seu crescimento, absorvem o dióxido de carbono (CO2) da atmosfera através da fotossíntese e o fixam na matéria orgânica. No entanto são raros os projetos de créditos de carbono baseados no plantio de florestas heterogêneas. Projetos de restauro florestal representam grandes investimentos logo no seu início, e como a geração de créditos está vinculada ao crescimento da floresta, o recebimento deles se estende por décadas tornando-os assim pouco atraentes para investidores. Por outro lado, as queimadas constituem a maior fonte emissora de GEE no Brasil colocando o país entre os maiores emissores do mundo. Neste contexto fica evidente que a questão florestal é peça chave no cenário das mudanças climáticas no Brasil e que é necessário desenvolver modelos para fomentar a restauração florestal e combater o desmatamento. A neutralização é um mecanismo voluntário de compensação de emissões de gases de efeito estufa através de restauros florestais.
O restauro de mata ciliar nativa é estratégico e traz vários benefícios: o direto é a neutralização do CO2 através da retirada de dióxido de carbono da atmosfera e a conversão do mesmo em biomassa florestal. Um dos benefícios indiretos, e talvez o mais importante, é a educação ambiental. A mudança de comportamento em relação ao meio ambiente representa a única maneira possível de revertermos sua degradação e, no processo de neutralização, a mudança de comportamento se faz presente em todas as etapas.
O ponto de partida para qualquer plano de gestão ambiental, e também no caso da neutralização, é a elaboração de um inventário de emissões. Nesse inventário são caracterizadas as emissões de GEE vinculadas ao evento em análise. A elaboração do inventário é conduzida por normas internacionais, sendo o GHG Protocol a mais utilizada. Esta norma é fruto de uma parceria entre empresas, ONG’s e governos de diversos países e foi estabelecido pelo World Resources Institute (WRI), com o objetivo de desenvolver um padrão internacionalmente aceito de contabilização de emissões de GEE e promover sua ampla adoção.
Durante a elaboração do inventário, todas as fontes de emissão de GEE são identificadas e quantificadas. Essa etapa é o ponto de partida para a adoção de medidas conhecidas como os 3Rs: Redução de consumo, Reutilização e Reciclagem de materiais. Desta forma, o objetivo é identificar possibilidades para tornar o sistema em análise cada vez mais ambientalmente eficiente e economicamente viável. A neutralização vem depois.
A partir dos resultados dessa etapa e da adoção das medidas dos 3Rs, a quantidade de CO2 que será neutralizada é definida. Utilizando metodologias aprovadas pela UNFCCC, sigla em inglês para Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, é determinada então a quantidade de árvores necessárias para, durante o seu crescimento, absorver o CO2 a ser neutralizado. A estimativa de absorção de carbono da atmosfera pelo crescimento das árvores é feita a partir da determinação do estoque de carbono potencial do tipo de floresta que será restaurada. Cada tipo de floresta possui quantidades diferentes de carbono por hectare, que é proporcional à quantidade e tamanho de suas árvores.
Uma vez determinado o tamanho e as características do restauro, se inicia a fase de projeto e implantação. O restauro é projetado buscando reproduzir as condições originais da cobertura vegetal típica da região. Uma vez escolhida a área e concluído o projeto, é feita uma análise do solo, correção de pH e adubação. As mudas são plantadas e mantidas através de um programa de manutenção contínuo durante pelo menos dois anos. A partir do terceiro ano, a floresta atinge a sua adolescência e adquire condições de seguir naturalmente seu ciclo de evolução. As pioneiras crescerão mais rapidamente e fornecerão as condições necessárias para que as secundárias se desenvolvam no ritmo típico deste sistema. Inicia-se então o monitoramento que é anual e serve para determinar a taxa de absorção de carbono e verificar as condições do restauro. É importante ressaltar que, pelo fato de serem implantados em áreas de preservação permanente, os restauros são protegidos por lei. O Código Florestal, embora não obrigue a recuperação das matas ciliares, caracteriza como crime as ações que acarretem em supressão das mesmas, estando seus responsáveis sujeitos as penas da lei.
O esgotamento da capacidade da Terra em suportar os confortos do homem atingiu escala global e crítica. Não existe uma solução singular, porém, a única alternativa é a mudança de comportamento e conseqüente mudança de toda a sociedade. Aderir à uma iniciativa como a de neutralização indica a opção do indivíduo em realizar suas atividades dentro de um outro nível de relacionamento com o meio ambiente. É uma atitude voluntária, consistente com práticas internacionais, e que proporciona múltiplos benefícios: conscientização ambiental, preservação dos recursos hídricos e da biodiversidade e, finalmente, a absorção de carbono da atmosfera pelas árvores plantadas.
Só no estado de São Paulo existe uma área estimada de 800.000 hectares de área ciliar de preservação permanente sem cobertura vegetal. No ritmo atual de restauração florestal, seria necessário mais de mil anos para acabar com este passivo ambiental.
Iniciativa Verde.
http://www.forumclima.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=31

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